Uma obra repleta de momentos impactantes e profundos, com uma narrativa que vai muito além da simples comemoração da carreira da banda
06/02/2025 - Teatro Multiplam
Pontos Positivos:
Narrativa Sensível e Emotiva: O espetáculo começa de maneira ousada, ao retratar um momento de grande fragilidade na vida de Herbert Vianna, após seu acidente. Essa escolha é brilhante, pois não apenas conecta o público com o lado humano da banda, mas também nos faz refletir sobre temas universais como a superação, amizade e resiliência. A decisão de evitar o sensacionalismo e o foco na tragédia é uma das maiores forças do musical, que consegue equilibrar a dor e a celebração com grande sensibilidade.
Texto Afiado de Patrícia Andrade: O trabalho de Patrícia Andrade no texto é exemplar. Sua habilidade de construir uma história que não é meramente nostálgica, mas profundamente introspectiva, é impressionante. A autora evita o clichê de glorificar a banda ou sua história, abordando as lutas pessoais e coletivas com um realismo tocante. A escrita não força a emoção, mas a deixa surgir de forma natural, capturando a complexidade dos sentimentos envolvidos.
Direção e Transições Temporais: Pedro Brício, ao dirigir o espetáculo, mostra uma visão clara e precisa. A transição entre os momentos presentes e os flashbacks é suave e bem pensada, com a cenografia de André Cortez e o desenho de luz de Paulo César Medeiros contribuindo para uma atmosfera que permeia o espetáculo com leveza e profundidade emocional. A iluminação, em especial, amplifica a carga emocional dos momentos mais íntimos e explosivos, oferecendo uma imersão total no universo dos Paralamas.
A Força das Canções: As músicas dos Paralamas são o coração pulsante do musical. As canções não apenas servem como trilha sonora de momentos-chaves da trama, mas tornam-se parte da narrativa. A direção musical de Daniel Rocha não se limita a recriar os arranjos clássicos; ele ousa adicionar novos elementos e frescor às músicas, fazendo com que elas se tornem ainda mais emocionantes e significativas. A reinterpretação das músicas com novos arranjos traz um sopro de vida ao legado da banda.
Interpretação Brilhante dos Atores: Rodrigo Salva, Gabriel Manita e Franco Kuster desempenham seus papéis com grande maestria. A interpretação de Salva, como Herbert Vianna, é especialmente impressionante, pois consegue capturar tanto a energia rebelde do cantor quanto a fragilidade e a força adquiridas após o acidente. Manita e Kuster, como Bi e João, fazem muito mais do que imitar os músicos originais; eles encarnam a amizade e o espírito de companheirismo que sustentam a banda. O vínculo entre os três atores é palpável e torna-se uma das maiores fontes de emoção do espetáculo, especialmente ao destacar o processo de recuperação de Herbert.
Honestidade na Narrativa: O maior mérito do musical é a sua capacidade de ser honesto. Ele não tenta criar uma história de superação exagerada ou uma glorificação vazia da banda. Pelo contrário, há uma crueza na maneira como a história é contada, e isso torna a experiência mais genuína e comovente. O espetáculo celebra a trajetória dos Paralamas com autenticidade, e é essa sinceridade que torna o musical tão poderoso.
Celebrando a Música e a Vida: Através da música e das relações humanas, "Vital" não apenas narra a trajetória de uma banda, mas também homenageia a força transformadora da música e a fragilidade da vida. O espetáculo revela a música como uma forma de resistência e união, algo que ressoa com qualquer pessoa que tenha uma conexão emocional com as canções dos Paralamas.
Pontos Negativos:
Poderia Explorar Mais a Diversidade de Aspectos da Banda: Embora o musical seja uma homenagem sincera à banda, sua ênfase na história de Herbert Vianna e no acidente, em vez de explorar mais profundamente os outros membros da banda e suas próprias trajetórias pessoais e profissionais, pode deixar alguns aspectos da história menos desenvolvidos. A relação entre Bi e João, por exemplo, poderia ser mais aprofundada para mostrar de forma mais equilibrada a contribuição de cada membro para o legado da banda.
Por Paulo Sales
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