Uma experiência sensorial e reflexiva, navegando pelas águas de sua carreira com a delicadeza de quem conhece o oceano das possibilidades artísticas
Pedro Miranda: A Reencarnação Sonora de "Atlântica Senhora" | Música | Show
Em "Atlântica Senhora", Pedro Miranda não apenas lança um álbum, mas cria uma tela sonora multifacetada que transcende a mera junção de músicas; ele traz à vida uma experiência sensorial e reflexiva, navegando pelas águas de sua carreira com a delicadeza de quem conhece o oceano das possibilidades artísticas. O quinto disco solo do compositor, que já possui um histórico robusto como intérprete e percussionista, oferece mais do que apenas melodias: ele desenha um futuro, um lugar onde o passado e o presente se entrelaçam e se transformam em algo profundamente original, sem perder a conexão com suas raízes.
Ao lado de artistas como Cristóvão Bastos, Zé Renato, Domenico Lancellotti e Chacal, Pedro Miranda almeja um diálogo intergeracional, que vai da ancestralidade musical à busca por novas formas de expressão. A maneira como ele faz esse cruzamento entre o tradicional e o inovador é algo que define a sonoridade do álbum: a percussão potente de Marcos Suzano se encontra com o erudito quarteto de cordas Oslo Strings, em uma fusão de mundos aparentemente distantes, mas que, juntos, formam uma paisagem coesa, envolvente.
A voz de Pedro, marcada por uma serenidade introspectiva, se eleva em um jogo de texturas que flerta com a nostalgia, sem se apegar a ela. Seu canto em espanhol, em faixas como “Candombe Bailador” e “Oración del Remanso”, abre um novo campo de possibilidades, deslocando sua identidade para um território transcultural, mas ainda com uma forte carga emocional de pertencimento. Em sua reinterpretação de clássicos como "Flor do Cerrado" de Caetano Veloso, e "Futuros Amantes" de Chico Buarque, o artista traz à tona uma leitura profundamente pessoal e contemporânea, quase como uma homenagem reverente, mas sem a obviedade de uma simples cópia.
O álbum não é apenas uma coleção de canções, mas uma meditação sobre a resiliência humana, uma resposta às dificuldades e uma celebração da regeneração. As faixas criadas em parceria com seus amigos e companheiros de longa data — incluindo os coletivos Forró da Gávea e Candombaile — são pequenas cápsulas do tempo, onde as emoções se diluem em cada acorde, criando um espaço onde o ouvinte pode se perder e se reencontrar. A produção musical de Luís Filipe de Lima, somada ao trabalho de mixagem de Moreno Veloso, contribui para uma atmosfera espacialmente rica, que se estende ao infinito do próprio conceito do disco.
"Atlântica Senhora" é uma alegoria sonora do renascimento. Através de suas músicas, Pedro Miranda tece um convite à introspecção, uma proposta para viver o momento com um olhar renovado, mas sempre ancorado nas forças de um Brasil que, apesar de suas feridas, segue sonhando. Em uma época onde a música parece muitas vezes se perder em regras e formatos previsíveis, Miranda entrega um projeto que desafia essas normas e nos faz olhar para o futuro com mais esperança.
Por Paulo Sales
Show de lançamento no Rio de Janeiro
Dia 25 de maio de 2025, no Teatro Rival Petrobras.
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