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Cidade dos Sonhos em 4K: Você Tem Certeza de Que Entendeu o Que Viu? | Cinema

Por um olhar que talvez não exista

Cidade dos Sonhos em 4K: Você Tem Certeza de Que Entendeu o Que Viu? | Cinema


Por um olhar que talvez não exista


Há filmes que nos convidam a assistir. Cidade dos Sonhos nos convida a sonhar — e, logo em seguida, a duvidar se estamos acordados.


David Lynch, o arquiteto das atmosferas impossíveis, tece aqui um labirinto de desejos, identidades e segredos que se desmancham no ar como fumaça de um cigarro nunca aceso. Betty chega à cidade com olhos de quem ainda acredita. Rita, por outro lado, emerge da névoa da amnésia como se carregasse a memória de um trauma coletivo. Juntas, elas percorrem um Los Angeles que não existe nos mapas, mas que habita o inconsciente de todos que já desejaram ser alguém — ou esquecer quem são.


A restauração em 4K, como um ritual de evocação, não apenas revive o filme: ela o reencanta. As cores saturadas, os contrastes intensificados, os grãos do celuloide expostos como pele — tudo pulsa com uma clareza que assusta. Porque, no mundo de Lynch, ver com nitidez nem sempre é reconfortante. O que a nova cópia revela, na verdade, é o que sempre esteve lá, escondido entre um sorriso forçado e um olhar perdido: a ruína do sonho americano, refletida em espelhos estilhaçados.


A crítica à indústria do cinema é tão silenciosa quanto ensurdecedora. Cada cena ecoa com a presença de algo que nunca é dito, mas sempre sentido — um sussurro que talvez venha do outro lado da tela. A busca por fama aqui não é uma jornada de superação, mas uma queda lenta e elegante em direção ao abismo da própria mente. Hollywood, com suas promessas douradas, se torna um teatro de sombras onde os papéis mudam de ator sem aviso, e onde a realidade é apenas um ensaio mal ensaiado.


Na nova versão, esse efeito se intensifica. As luzes de Los Angeles brilham mais forte — e com isso, suas trevas também se tornam mais densas. Aqueles que já percorreram esse sonho antes encontrarão novas pistas, novas texturas, novos pesadelos. Já os novatos, correm o risco de não querer mais acordar.


Como nos lembra o Clube Silencio: “No hay banda.” E, mesmo assim, a música continua. Talvez seja essa a essência de Cidade dos Sonhos: um enigma que não pede solução, mas contemplação. E agora, com sua chegada às salas brasileiras em 17 de abril, distribuído pela Retrato Filmes, o convite está feito — para sonhar de novo, com olhos bem abertos.


Mas cuidado: nem todo sonho termina ao acordar. Às vezes, é aí que ele realmente começa.


Cidade
2013

Em 17 de abril o clássico retorna aos cinemas brasileiros



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